sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Castro Alves


Qualquer homem de teatro já sofreu ou suspirou por uma atriz. Houve uma geração em que o sofrimento amoroso rendia mais do que porres e ressacas. Esse belo rapaz acima foi um dos mais brilhantes membros dessa geração, e sofreu e suspirou bastante pela atriz Eugênia Câmara, a quem escreveu esse poema:
A EUGÊNIA CÂMARA
Ainda uma vez tu brilhas sôbre o palco,
Ainda uma vez eu venho te saudar...
Também o povo vem rolando aplausos
Às tuas plantas mil troféus lançar...
Após a noite, que passou sombria,
A estrêla d'alva pelo céu rasgou...
Errante estrêla, se lutaste um dia,
Vê como o povo o teu sofrer pagou...
Lutar!... que importa, se afinal venceste?
Chorar!... que importa, se afinal sorris?
À tempestade não se rompe a estátua
Lava-lhe os pés e a triunfal cerviz.
Ouves o aplauso deste povo imenso,
Lava, que irrompe do popular vulcão?
É o bronze rubro, que ao fundir dos bustos
Referve ardente do porvir na mão.
O povo... o povo... é um juiz severo,
Maldiz as trevas, abençoa a luz...
Sentiu teu gênio e rebramiu soberbo;
- Prá ti altares, não do poste a cruz.
Que querem? Ouve - são mil palmas férvidas.
Olha - é o delírio, que prorrompe audaz.
Pisa! - são flores, que tu tens às plantas,
Toca na fronte - coroada estás.
Descansa, pois, como o condor nos Andes,
Pairando altivo sobre terra e mar,
Pousa nas nuvens p'ra arrogante em breve
Distante... longe... mais além voar.
Recife - 1866.

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