Segue uma do Groucho Marx. Decididamente trata de uma realidade teatral muito diferente da nossa, mas não deixa de ser estranho e interessante, e de servir para uma reflexão sobre o quão estéreis e preconceituosas podem se tornar as nossas discussões sobre qualidade:
"Não vou defender os críticos. A verdade é que ignoro para que servem. Mas, seja para que for, tem o direito de cumprir sua missão no teatro de qualquer empresário, por mais desastrosas que sejam as consequências.
Durante anos venho meditando sobre os críticos. Uma peça foi escrita ostensivamente para certo público, mas os os críticos a repudiam, esse público jamais terá a oportunidade de vê-la. Quem foi que decidiu que a função do crítico é educar o público? Se a plateia na estreia sai satisfeita da peça, por que não se pode permitir que o resto dos espectadores possíveis a veja?
No The Summing Up, perguntaram a Somerset Maughan por que havia deixado de escrever para o teatro; Disse que era muito difícil agradar simultaneamente à criada que se sentava no terceiro andar e ao crítico do Times de Londres. "Creio que posso escrever para os dois - declarou - mas não posso agradar a ambos. Seus gostos são bastante diferentes."
Na cidade de Nova York costumava haver entre noventa e cem teatros. Agora só existem uns vinte. (...) Creio que a ausência de sonoras gargalhadas é parcialmente responsável pelo atual estado do teatro. A maior parte da sua alegria foi eliminada, e os críticos foram responsáveis.
Um renomado crítico (não há necessidade de mencionar seu nome) escreveu recentemente sobre uma peça chamada Ganhei Um Milhão, protagonizada por Sam Levine. Eis o que escreveu: "Isto não é tanto uma crítica, mas uma confissão. Passei boa parte da noite passada rindo de uma peça muito ruim". Aí está! Esse crítico passou a noite rindo, mas finalmente decidiu que a peça era "muito ruim". (...)
Observe que eles não atacam a indústria automobilística. Sabe por quê? Porque a companhia prejudicada lhes retiraria toda a publicidade. Nenhum jornal publica em letras destacadas: "Não compre essas repugnantes camisas que os Armazéns Delayney vendem a 1,78 dólares". Ninguém te aconselha a não ler a última edição do Saturday Evening Post porque "não está à altura do número da semana passada".
Durante anos venho meditando sobre os críticos. Uma peça foi escrita ostensivamente para certo público, mas os os críticos a repudiam, esse público jamais terá a oportunidade de vê-la. Quem foi que decidiu que a função do crítico é educar o público? Se a plateia na estreia sai satisfeita da peça, por que não se pode permitir que o resto dos espectadores possíveis a veja?
No The Summing Up, perguntaram a Somerset Maughan por que havia deixado de escrever para o teatro; Disse que era muito difícil agradar simultaneamente à criada que se sentava no terceiro andar e ao crítico do Times de Londres. "Creio que posso escrever para os dois - declarou - mas não posso agradar a ambos. Seus gostos são bastante diferentes."
Na cidade de Nova York costumava haver entre noventa e cem teatros. Agora só existem uns vinte. (...) Creio que a ausência de sonoras gargalhadas é parcialmente responsável pelo atual estado do teatro. A maior parte da sua alegria foi eliminada, e os críticos foram responsáveis.
Um renomado crítico (não há necessidade de mencionar seu nome) escreveu recentemente sobre uma peça chamada Ganhei Um Milhão, protagonizada por Sam Levine. Eis o que escreveu: "Isto não é tanto uma crítica, mas uma confissão. Passei boa parte da noite passada rindo de uma peça muito ruim". Aí está! Esse crítico passou a noite rindo, mas finalmente decidiu que a peça era "muito ruim". (...)
Observe que eles não atacam a indústria automobilística. Sabe por quê? Porque a companhia prejudicada lhes retiraria toda a publicidade. Nenhum jornal publica em letras destacadas: "Não compre essas repugnantes camisas que os Armazéns Delayney vendem a 1,78 dólares". Ninguém te aconselha a não ler a última edição do Saturday Evening Post porque "não está à altura do número da semana passada".
Se perguntamos por que não criticam aos novos automóveis ou às novas torradeiras elétricas que a General Eletrics está fabricando, sempre nos dão a mesma resposta: "Bom, esses são produtos industriais e nós não criticamos mercadorias ou negócios. Somente fazemos críticas artísticas". Bem, o teatro não é uma arte. É um negócio. Se não pensam assim, é só perguntar a algum produtor que acaba de perder trezentos mil dólares num espetáculo que tenha agradado ao público, mas não aos críticos.
Creio que se os críticos de Nova York empacotassem suas máquinas de escrever, se mudassem para a Mongólia Exterior e lá permanecessem durante uns dez anos, o teatro voltaria a florescer como no começo do século, apesar de concorrência da televisão, dos filmes, do boliche e do sexo.
(Depois desse inflamado discurso, eu não me atreveria a me apresentar em Nova York nem com a melhor peça jamais escrita!)
Groucho Marx - (1890 - 1977)
Creio que se os críticos de Nova York empacotassem suas máquinas de escrever, se mudassem para a Mongólia Exterior e lá permanecessem durante uns dez anos, o teatro voltaria a florescer como no começo do século, apesar de concorrência da televisão, dos filmes, do boliche e do sexo.
(Depois desse inflamado discurso, eu não me atreveria a me apresentar em Nova York nem com a melhor peça jamais escrita!)
Groucho Marx - (1890 - 1977)
O Núcleo 1408 não se responsabiliza pelas opiniões de gente morta reproduzidas no seu blog.
2 comentários:
Muito bom condeixa. Repassei o texto pra uma galera.
bjo
Ps. Pessoas mortas.. adorei
Legal o blog do Núcleo, Rui!! Vou linkar com o da Curva
Abç!!
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