quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O Pé e o Sapato

Em grupo de estudos de que faço parte, o orientador colocava, sábado passado, a seguinte questão: "preciso de um sapato, preciso de um sapato, porque andar descalço na rua é foda; [uma necessidade clara e prática, eu acrescento]. que sapato vai calçar meu pé; que dramaturgia será o sapato para o pé do nosso tempo. sejamos objetivos".

Admitamos que qualquer produto humano, consciente ou inconsciente disso, serve a interesses objetivos e materiais, seja em si mesmo, seja por causa do aparato que o cerca - essa lição nós não podemos esquecer. Daí eu me pergunto, este sapato que precisamos descobrir, essa necessidade que precisamos identificar no mundo e então sanar, será ela estética? Quero dizer, um teatro político necessariamente deve ser acompanhado de uma estética política, ou trata-se, no momento, da necessidade de uma postura política dos artistas - mais do que da arte que produzem - em relação à produção e distribuição do objeto de arte. O teatro (detesto concordar com o Gerald Thomaz, mas fazer o quê) está respirando por aparelhos... Não deveríamos antes salvar o teatro, digo, antes de tentar salvar o mundo? Do contrário não estaríamos condenados a reproduzir a triste cena do Rei Lear em que o louco guia o cego? (tudo bem, na cena o louco é um falso louco, mas a imagem serve mesmo assim). Ou será que, assim, não nos condenamos a uma capitulação disfarçada de pensamento estratégico? Perguntas, perguntas, perguntas...

(Rui Xavier)

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