'O que é revelado pelas leis.- Ver no código penal de um povo uma expressão de seu caráter é equivocar-se grosseiramente; as leis não revelam aquilo que um povo é, mas aquilo que lhe parece estranho, esquisito, monstruoso, exótico. A lei refere-se às exceções, à moralidade dos costumes e as penas mais duras atingem o que está de acordo com os costumes da nação vizinha. Entre os Iohabibis existem apenas dois pecados mortais: ter um deus distinto do dos Hiohabibis e... fumar (a isto chamam "maneira vergonhosa de beber"). "E que pensam do assassínio e do adultério?" indagou espantado o inglês a quem perguntavam essas coisas. "Ora", responde o velho chefe, "Deus é clemente e misericordioso!"
Os antigos romanos acreditavam que a mulher só podia cometer dois pecados mortais: entregando-se ao adultério e... bebendo vinho. O velho Catão pensava que o costume de se beijar entre parentes era para controlar as mulheres a esse respeito; quem beijava perguntava: há cheiro de vinho? Foram realmente punidas com a morte mulheres apanhadas a beber vinho e certamente não era porque as mulheres sob a influência dessa bebida perdessem, às vezes, a faculdade de dizer "não"; os romanos receavam acima de tudo o sopro orgiástico e dionisíaco que passava de vez em quando por essas mulheres de países meridianos, quando o vinho ainda era novidade na Europa; viam nisso um exotismo misterioso indicado para abalar as bases do sentimento romano; a embriaguez das mulheres traía Roma, abrigava o sangue bárbaro nas artérias dos romanos.' (F. Nietzsche, in 'A Gaia Ciência', trad. Pugliesi et al, ed. Hemus)
quarta-feira, 2 de junho de 2010
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Um comentário:
acho que esse negócio de beijar para procurar cheiro de vinho (e de muitas outras coisas) ainda é bem praticado por muitas famílias...
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