sexta-feira, 28 de maio de 2010

Cena 1° do III Ato

Uma das passagens mais bonitas do texto de Camus:
Hévelin Gonçalves - foto de Bob de Souza
"Deusa das dores e da dança,
Nascida das ondas, toda viscosa e amarga de sal e espuma
Tu que és como um riso e um lamento
Um rancor e um impulso
Ensina-nos a indiferença que faz renascer os amores
E instrui-nos na verdade desse mundo, cuja verdade é não a ter,
E concede-nos a força de viver à altura desta verdade sem par.
Cumula-nos de teus dons,
Derrama sobre o nosso rosto
a tua crueldade imparcial,
Teu ódio perfeitamente objetivo,
Abre sobre nossos olhos
as tuas mãos cheias de flores e de crimes.
Acolhe teus filhos transviados.
Recebe-os no solitário asilo desnudado
do teu amor indiferente e doloroso.
Dá-nos tuas paixões sem objeto,
As tuas dores privadas de razão,
e tuas alegrias sem futuro.
Tu, tão despojada e ardente
Inumana, mas tão terrestre
Embriaga-nos com o vinho da tua equivalência
E sacia-nos para sempre do teu coração
Sombrio e salgado"
Albert Camus - Calígula.
Assista o nosso espetáculo no Espaço dos Parlapatões (Pça. Franklin Roosevelt, n°158 - Centro), às terças feiras, 21h.

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